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O Serial killer paranaense, Adriano Vicente da Silva, hoje com 46 anos, foi preso em Maximiliano de Almeida, nas proximidades da Usina Hidrelétrica Machadinho, divisa com Santa Catarina, em janeiro de 2004.
O Sargento Rodrigues de Machadinho, policial da Brigada Militar, na época trabalhava em São José do Ouro, participou da prisão e contou para a reportagem, que 50 policiais militares e civis, em 15 viaturas, ficaram em busca do assassino durante dois dias, pela região. Na ação, o Sargento Bessegato de Maximiliano de Almeida, foi quem prendeu o indivíduo.
Créditos: Jean Pimentel / Agencia RBS/Rádio Club FM 96.7
Há exatos 20 anos, um morador da cidade de Lagoa Vermelha, no norte do Rio Grande do Sul, acionava a polícia porque havia encontrado o corpo de um menino nas margens de um riacho, em uma área de matagal. A suspeita de todos naquele momento acabou por se confirmar: se tratava de Éderson Leite, 12 anos, desaparecido desde 16 de agosto de 2002.
Mas o que ninguém imaginava naquele dia, é que esta seria a primeira de um total de 12 vítimas, todos meninos da região, de um serial killer. O paranaense Adriano Vicente da Silva, hoje com 46 anos, confessou os crimes que ocorreram até janeiro de 2004, quando foi preso em Maximiliano de Almeida, nas proximidades da Usina Hidrelétrica Machadinho, divisa com Santa Catarina.
Ele chegou a confessar todos os homicídios, voltou atrás em relação a alguns deles posteriormente, mas foi denunciado e condenado – o último júri foi em 2011 – por nove assassinatos de meninos em Lagoa Vermelha, Passo Fundo, Sananduva e Soledade. A pena total dele, já que tinha também condenação por latrocínio no Paraná, é de 264 anos.
Atualmente, Adriano está na Penitenciária de Alta Segurança de Charqueadas (Pasc). Como na época dos julgamentos dele o prazo total era de 30 anos para cumprimento em regime fechado, em 2034 Silva pode ser solto. E esta questão reacende uma discussão entre as autoridades sobre a lei penal e a real função da ressocialização de presos.
O promotor Fabiano Dallazen, ex-procurador-geral de Justiça, atuou na acusação de um dos casos em Passo Fundo. Ele relembra que Silva usava o nome do irmão, já que tinha condenação anterior no Paraná. Este fato, aliado a outros, levou, em uma determinada ocasião, a polícia a soltar Silva por falta de provas. Mas o membro do Ministério Público Estadual entende que houve outros fatores para isso, como o sistema judicial não ser tão preciso, bem como integrado, na época, e o fato de a polícia não acreditar, inicialmente, que se tratava de assassinatos em série. Dallazen diz que tudo isso contribuiu para que o assassino continuasse agindo sem que se soubesse que os fatos tinham, pelo menos no início, uma ligação.
O promotor ressalta ainda que o criminoso dava detalhes sobre as mortes e locais que somente o autor poderia indicar, tanto é que uma das vítimas só foi descoberta porque Silva revelou onde estava o corpo. Dallazen conta que, em todos os casos, o assassino agia da mesma forma: atraía os meninos com alguma promessa, como comprar algo que eles vendiam; depois, em um lugar afastado e isolado, aplicava neles um golpe de artes marciais, para que ficassem desacordados; e os asfixiava. E em alguns casos, depois dos homicídios, o condenado ainda abusava sexualmente dos garotos. Este fato gerou provas para a polícia, devido à comprovação de material genético do assassino nos corpos localizados.
Prisão e julgamentos
Apesar de todas controvérsias iniciais, Adriano da Silva acabou sendo preso no dia 6 de janeiro de 2004 em Maximiliano de Almeida, na divisa com Santa Catarina. Os relatos de algumas crianças que conseguiram escapar e de outras que viram amigos sendo levados para locais ermos pelo então suspeito, além de uma foto dele em uma delegacia de polícia, foram cruciais para que testemunhas identificassem o homicida e a polícia, dessa forma, pôde obter ordem judicial de prisão provisória.
Depois disso, houve várias novas diligências, reconstituições, perícias e depoimentos que resultaram na denúncia e condenação do criminoso em nove casos. O promotor Dallazen diz ainda que toda a acusação sustentou perante os jurados a necessidade de derrubar um laudo técnico que indicava um problema psiquiátrico do réu. Segundo ele, ao mesmo tempo que o documento apontava para a diminuição da pena pelo diagnóstico, o prognóstico do acusado destacava que não havia cura.
A primeira condenação de Silva relativa aos assassinatos em série foi em 2006, pegando 21 anos de prisão pela morte do garoto Alessandro Silveira, 13, ocorrido em março de 2003, em Passo Fundo, e cuja ossada foi encontrada em setembro daquele ano. Em relação ao menino Éderson Leite, a primeira vítima, o criminoso foi condenado em 2008 a 22 anos de prisão.
A juíza Lísia Dorneles Dal Osto presidiu o segundo júri de Silva em Sananduva no ano de 2007 e referente à morte de Daniel Bernardi Lourenço, 14, ocorrida em janeiro de 2004, três dias antes da prisão do criminoso. A pena foi de 24 anos de reclusão. Segundo a magistrada, o que ficou de aprendizado deste caso é o fato de que as crianças hoje precisam estar bem informadas, não incutir o medo, mas ter orientação, senso de autocuidado e de atenção.
A juíza defende a união das famílias e do poder público por meio de programas e atividades com vigilância mais ativa e supervisão confiável para a proteção integral das crianças e adolescentes.
“O Nenê estava sempre perto de mim”
Foto: Maria Eduarda Ely / RBSTV
O Nenê, como era chamado o caçula da família Leite, de Lagoa Vermelha, era o terceiro filho de dona Erli. Ela lembra que ele estava sempre perto dela. Era meio tímido, pelo menos nos primeiros contatos, mas depois mostrava toda a alegria e diversão que contagiava a todos. Essas são as lembranças que a mãe guarda, mas ela ressalta emocionada que, apesar de superar a dor, sempre haverá um vazio no coração.
— Ele saiu com o irmão para vender rifa e nunca mais voltou. Se passaram mais de 20 dias e eu rezava para que encontrassem ele. Não foi como eu queria, mas encontraram. A gente sobrevive, 20 anos se passaram e parece que tudo é mentira, impressão que ele tá aqui com a gente. A gente tem que lutar, mesmo que ainda seja difícil de acreditar que o Nenê não está mais com a gente. Não sei se eu sobreviveria, mas temos outros filhos, a gente tem que ser forte — ressalta dona Erli.
Ela diz que a netinha dela, sobrinha da vítima, que se parece muito com o filho falecido, ajuda a superar o que toda a família passou. Lagoa Vermelha tem hoje a Escola Municipal Éderson Leite, em homenagem à vítima do assassino em série.
Lei penal
O juiz Márcio Monteiro presidiu o último júri de Silva, em Passo Fundo, em 2011, proferindo uma sentença condenatória de 32 anos de prisão. Na verdade, este júri manteve a mesma decisão de outro de 2007, que havia sido anulado a pedido da defesa. O magistrado diz que todos estes julgamentos trazem uma reflexão sobre o direito penal e as finalidades da pena, principalmente na questão da prisão perpétua ou mesmo da pena de morte, segundo ele, e ainda na real função da ressocialização. O que, para o magistrado, e de acordo com laudo psíquico, não foi o caso de Silva.
— Qual a função da pena? Ressocialização não é. Pena só como retribuição, vingança ou segregação? Se não tem pena capital e perpétua, será que o limite não é pouco? E o que pode acontecer a partir da extinção dessa pena? Seria razoável arriscar a vida de outras crianças para que ele (Silva) viesse a ser recolhido novamente?
O juiz Monteiro se refere basicamente ao limite máximo para pena em regime fechado, que atualmente é de 40 anos, mas na época das condenações de Adriano da Silva era de 30 anos. Devido a isso e, conforme o Processo de Execução Penal dele, o término da pena do condenado tem data marcada, e será dia 25 de maio de 2034. E é este o alerta que o magistrado faz: o assassino em série pode sair da prisão daqui a 12 anos.
É a mesma questão que o promotor Dallazen refere, ao mencionar que Adriano ainda tem possíveis boas condições físicas e, provavelmente, os mesmos transtornos psíquicos. Segundo ele, o que ainda pode ser um risco. Por isso o juiz Monteiro defende que a lei penal deve ser constantemente debatida e questionada.
O que diz a Defesa
Adriano é atendido pelo Núcleo de Defesa Criminal da Defensoria Pública do Estado. A dirigente, Cíntia Luzzatto, diz que pedidos de atendimento médico, visita, progressão de regime, assim como inspeção e fiscalização do cumprimento da pena são acompanhados pelo órgão. Ela diz que o paranaense trabalha na Pasc. Desde que foi preso, não houve registros de problemas graves de comportamento.
Vítimas e condenações
- Éderson Leite, 12 anos: corpo encontrado em setembro de 2002 em Lagoa Vermelha. Em 2008, Silva foi condenado por este crime a 22 anos de prisão.
- Alessandro Silveira, 13 anos: corpo encontrado em setembro de 2003 em Passo Fundo. Em 2008, Silva foi condenado a 21 anos de prisão.
- Douglas Oliveira Hass, 10 anos: atraído pelo criminoso e morto em abril de 2003, em Soledade. Em 2008, Silva foi condenado a 21 anos de prisão.
- Volnei Siqueira dos Santos, 12 anos: desapareceu em julho de 2003 em Passo Fundo. Com a anulação do primeiro júri, a sentença definitiva veio em 2011 e Silva foi condenado a 32 anos de prisão por este assassinato.
- Júnior Reis Loureiro, 10 anos: morto em setembro de 2003 em Passo Fundo. Em 2006, Silva foi condenado a 29 anos de prisão.
- Jéferson Borges Silveira, 11 anos: desapareceu em setembro de 2003 em Passo Fundo. Em 2010, Silva foi condenado a 37 anos de prisão pela morte dele.
- Luciano Rodrigues, 9 anos: corpo encontrado em novembro de 2003 em Passo Fundo. Em 2006, o autor foi julgado e condenado a 21 anos de prisão.
- Leonardo Dornelles, 8 anos: corpo encontrado em dezembro de 2003 em Passo Fundo. Em 2007, o autor foi julgado e condenado a 21 anos de prisão.
-Daniel Bernardi Lourenço, 14 anos: morto em janeiro de 2004 em Sananduva. Em 2007, Silva foi condenado a 24 anos de prisão.
Fonte: GZH/Rádio Club FM 96.7